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06/12/2017 / Publicado em Artigos Autorais

A moeda da tristeza e suas faces

“O homem é de argila”*.
Há condições de experiência cujas bases se assentam na biologia humana, o que implica dizer que estamos diante de algo cujos registros diacrônicos, a rigor, são imemoriais. O fato de que temos/somos/ou que habitamos um corpo (a variar segundo a perspectiva de cada um) faz com que, determinadas condições de possibilidade de vivências estejam dispostas aprioristicamente no organismo humano (leia-se: corpo e psiquismo), de forma natural.

Os registros da dor, por exemplo, ganham relevo quando a abordamos sob uma perspectiva histórica da espécie humana. Não importa em qual época, nem em qual lugar tal coisa se manifeste, há pré-condições básicas para que um sujeito possa vir a atravessar algum momento de dor. Quer estejamos a considerar sua determinação a partir de estímulos externos (por exemplo, pela via da natureza), ou a algo referente à uma desorganização orgânica (segundo desordem interna de importante dimensão), o humano nasce com um aparato de defesa que é capaz de indicar, via de regra, quando algo está fora do lugar – ou, em outras palavras, que algo está se distanciando de forma significativa de sua condição homeostática.

A considerar a evolução humana, tal como quanto à qual cultura determinada pessoa ou povo se encontra sobremaneira vinculado, as terapêuticas haverão de ser colocadas com meios, eficácia e temporalidade idiossincráticos, quer seja pelos cuidados de um pajé (plantas e ervas), um sacerdote (fé, invocação divina), um cientista (saberes e práticas submetidos a rigorosos processos de validação técnica/experimental), ou ainda, um feiticeiro (grosso modo, magias e rituais obscuros). Assim como um conjunto de fatores pode ocasionar uma doença, há um conjunto de possibilidades para algo que esteja sob demanda de tratamento.

Na sociedade ocidental pós-moderna, tem-se testemunhado amplamente, que, uma das expressões mais antigas da relação do sujeito com qualquer coisa capaz de lhe causar sofrimento – em última análise, por alguma perda, imaginária ou real –, isto é, a tristeza (assim como a dor), tem sido envolvida em uma representação que, em princípio, não fica sem consequências importantes. Vemos um pacto velado, segundo o qual o lugar da tristeza é muito radicalmente o lugar do rechaço; se se entende a tristeza como algo impossível de não ser o que, em suma, aparenta ser, isto é, algo deletério – questão assim esgotada, em um sentido único –, tem-se nessa definição a causa de um outro problema, capaz de sustentar e acentuar o primeiro.

A tristeza, enquanto objeto de estudo, não pode suportar uma leitura que seja capaz de conjugá-la a um fenômeno/experiência a ser negada, pois, não se trata, necessariamente, de um mal em si mesmo, nem é, tampouco, algo aprioristicamente referente a uma doença da alma, mas antes, constitui possibilidade inerente à uma experiência, em si, resultante de uma organização pessoal particular, atravessada de afetos, sensibilidade e arranjos subjetivos peculiares a cada sujeito. No limite, é tarefa difícil imaginar quem possa suportar, sem certa medida de tristeza, a perda de um objeto de amor.

Não se trata elaborarmos um panegírico da tristeza, ou do sofrimento – o que seria sumariamente negativista -, mas, trata-se da invocação efetiva do pensamento para que se os conceba de forma “socialmente descontaminada”, a fim de extrair os desdobramentos que daí podem advir, de forma que percorrer caminhos abertos pela tristeza faz o sujeito se defrontar com questões e estados de coisas que podem servir como meio de crescimento, uma vez que, quando triste, o sujeito é, em estado desperto, levado a explorar as condições não somente do que lhe levou a tal posição, mas também a uma privilegiada oportunidade de desbravamento de seus territórios anímicos menos conhecidos, ou até mesmo não sabidos, dos quais se pode vir a fruir a partir do trabalho com o material a ser descoberto.

Se, por um lado, não se deve dar um lugar digno à dor, à tristeza, é exatamente pela consequência do interdito segundo o qual não se deve ser senão feliz – isto é, sempre. A medida da beligerância que se faz cabível empreender diante de tal coisa é diametralmente proporcional à escala daquilo que visa a nos fazer destoar do que somos. Assim sendo, a tristeza importa, na medida que encerra uma capacidade reveladora/implicadora de si mesmo e das questões da existência, a qual não se deve preterir, no que se abre, a partir daí, um horizonte de conhecimentos, aposta de condições mais elevadas de elaboração sobre a própria vida e um meio cujos alvos são, a serenidade, a coragem, a leveza, a alegria e a sabedoria.

Fora do espectro das insígnias capitalísticas relativas ao sucesso pessoal, tão propalado no coevo, a tristeza é costumeiramente interpretada como “sintoma social”, de modo a se tomar um parâmetro que não respeita os modos de ver, sentir e agir do indivíduo em questão, tal como, fundamentalmente, a sua historicidade, a fim de privilegiar o lugar a ela atribuído segundo os discursos predominantes na tessitura social. Estamos diante de um exemplo emblemático de um delírio próprio ao discurso capitalista, quando este propõe uma leitura que equivoca a natureza e o valor de tal emoção/vivência, num flagrante processo de artificialização da humanidade de cada um, visando a obliteração da experiência em sua expressão mais espontânea, real e verdadeira, em detrimento de um acoplamento de si próprio a uma “prótese” avassalante, capaz de fazer eclipsar o sujeito perante a sua verdade e condição autêntica próprias.

A negação da vida tem ganhado delineamentos no mínimo desconcertantes ao longo dos últimos tempos. No Brasil de hoje, a indústria dos cosméticos tem se sobressaído à crise econômica que perpassa o país, de forma espetacular, alcançando a marca de o terceiro maior mercado consumidor dessa seara em todo o mundo, atrás apenas de China e Estados Unidos. A palavra “cosmético”, etimologicamente, significa “que põe em ordem”. Alinhando-se ao movimento de embelezamento das superfícies, e ao desprezo às “coisas de profundidade”, cosméticos se referem atualmente tão somente àquilo que dá forma, isto é, aquilo que se coloca em uma incidência estrita no campo das aparências (aquilo que, em suma, aparece), sob a égide do culto à estética, tributário direto da “cultura do bem-estar”, balizadora fundamental da ideia de “ser feliz” como imperativo, o que não pode se dar senão por vício, à foraclusão da virtude, de onde a importância de se desvencilhar de tais ideais socioculturais que marcam a paisagem que se revela a nós na sucessão dos dias.

“Cosm-ética”, este hífen revela uma perspectiva sintomática de como lidamos com nós mesmos, posto que a ética se mantém fora do quadro de recursos com os quais o sujeito pode vir a viver a experiência de ser quem ele é, debruçando-se sobre o “ordenamento das superfícies”, situando a óptica do Outro como elemento capturador das subjetividades, envolvendo os sujeitos num véu que obstaculiza o processo de enxergarem a si próprios como seres vivos únicos, de especial potência criadora.

As emoções são a matéria-prima de que somos feitos, assim como as palavras, que, por sua vez, lavram emoções. As emoções podem levar o sujeito às palavras, enquanto estas veiculam aquelas. Constituem matéria fina, complexa, rica. A afirmação da natureza humana plenifica a identidade de cada um como humano, porém, não apenas do ponto de vista biológico, dado que, basicamente, o faz um exemplar da espécie, mas sobremaneira do ponto de vista de sua própria formação, concebendo e aprimorando os seus constructos segundo um compromisso ético, consigo mesmo e com os seus pares – em suma, com a humanidade.

A humanidade de cada um é um universo em si mesmo. A multiplicidade é uma marca presente em cada ser vivo; a unilateralidade, nessa matéria, constitui um logro. As ideias movem os sujeitos e os processos definidores de respostas às demandas da vida são, ambos, eles mesmos, complexos. A complexidade é uma constante na vida dos seres, em geral, seja micro ou macrocosmicamente. A luta é pela expansão da vida, pela sua plenitude, pela sua beleza e poética. A poesia é um mister – sempre, diga-se. A ética é uma forma de poesia. Ambas formam um rico canal pelo qual a vida ganha passagem, numa clara promoção da liberdade, retirando do caminho aquilo que lhe é diverso, portanto, adverso, e que, tal como o faz a imunologia do corpo, ativa sua força bélica para preservar a si mesmo, pelo destruidor e belo ataque ao inimigo. Cito, aqui, Edgar Morin: “Viver poeticamente significa viver intensamente a vida, viver de amor, comunhão, comunidade, jogo, estética, conhecimento, afetividade e racionalidade, viver assumindo plenamente o destino de homo sapiens-demens”.

Inscrição na biblioteca de Michel de Montaigne. *

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Concebo a clínica como lugar de vivificação da existência humana. Aqueles que se dão à oportunidade para esse importante passo, motivados a partir da presença de um sinto-ma, cuja razão de ser pode não estar revelada a priori, podem vir a encontrar, no seio da experiência por nós proposta, novas razões de ser para si próprio e, portanto, para um fazer mais interessante e pleno com a própria vida.

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