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  • A violência no mapa do Brasil: uma travessia que desafia o país
 
25/02/2018 / Publicado em Artigos Autorais

A violência no mapa do Brasil: uma travessia que desafia o país

O destino não vem do exterior para o homem, ele emerge do próprio homem.
Rilke

A violência atesta um estado de coisas no qual a aposta civilizatória no simbólico, na linguagem, em suma, no compromisso do homem com a ordem social basilar, pela via da palavra, fundamentalmente, encontra o flagrante de um fracasso que pode se revelar de diversas formas. O que se testemunha, muito propriamente, é a manifestação da violência no cenário contemporâneo em extensões epidêmicas, presença devastadora no cotidiano das pessoas, independentemente de perfis socioeconômicos, idade, sexo, cor ou credo.

O Brasil encontra, na violência, um dos seus mais representativos e emblemáticos problemas. Amplamente associada a atos que lhe denunciam especificamente por sua materialidade fática, esta temática deve suscitar um trabalho com questões diretamente associáveis às suas causas, com uma materialidade de coisas que se impõem necessariamente no mapa de uma história e de uma geografia importantes.

Nos últimos anos, o estado brasileiro vem sendo apresentado à nação, a partir da orquestra responsável de um dos poderes constitutivos da república, o judiciário, talvez como nunca antes o fora, trazendo à tona uma série de fatos extremamente relevantes, a respeito da natureza de um conjunto de seus atos – oficiais ou não oficiais, lícitos ou ilícitos. Esses atos revelam um país, em cujas entranhas, um poder, com disposições práticas amplamente estranhas aos interesses da nação se estabelecera, com demonstrações incalculáveis de uma enorme e lamentável capacidade de destruição de condições imprescindíveis ao presente, e de uma bestial convergência ao comprometimento do futuro próprio à nação.

Trata-se, aqui, de uma bestialidade que é muito mais que homicida, mas por definição genocida – uma bestialidade que, em última análise, não pode ser considerada menos que isso. Na prática, as oceânicas cifras dispostas sob responsabilidade do governo nacional, escoam dissonantes à construção de uma política que tenha em seu horizonte o bem comum à vida humana. Os desvios de finalidade, notadamente expressão dos desvios de poder, se colocam de forma predominante, visceralmente conexos ao panorama de descaminhos econômicos sob os quais encontram sustentação condições de vida de que costumam desfrutar os (ironicamente) eleitos pelo povo, decididamente, à revelia da lei, da moral cívica, da ética e, sobretudo, da vontade popular.

A escola sem professor, ou com professor mal qualificado, ou mesmo bem qualificado, mas, por outro lado, mal remunerado; uma instituição com estrutura física sem condições dignas de funcionamento; falta de materiais elementares; um baixo número de estabelecimentos de ensino pelo país; grades curriculares desatualizadas; tecnologias não inclusas em programas de ensino; uma educação que não se volta para a vida, mas para uma experiência de procedimentos e burocracias etc. A segurança pública com defasagem em termos de contingência de homens nas ruas; precariedade instrumental; má remuneração; menos viaturas, armas e munições que do que o necessário; formação com extensão e qualidade menor que o satisfatório; serviços de inteligência desprovido de recursos operacionais etc. Estes são alguns exemplos de inanição social que fazem algumas “doenças” da sociedade se manifestarem ulteriormente.

Podemos extrair importantes consequências, com Hannah Arendt, quando, nos seguintes termos diz: “a forma extrema de poder é o de todos contra um, a forma extrema da violência é um contra todos”. O vácuo resultante das não-ações (ou má ações) dos governos provoca, no cotidiano das pessoas, o seu efeito proporcional, uma contingência de desdobramentos deletérios às causas sociais elementares, os quais são tributários dessa ordem política, a qual está deturpada em face de sua proposta original, de favorecer condições que respeitem as liberdades, individuais e coletivas, e meios dignos de estruturação dos mais variados campos da existência humana, quando postas sob a ótica do que é comum a todos, enquanto cidadãos.

Para além de todo e qualquer fator diretamente implicado às instâncias administrativas do país, está o poder legislativo, responsável pela elaboração de um sistema de leis defasado, se colocado diante da realidade que o país atravessa, e que não contempla, portanto, as necessidades dispostas à conjuntura de um novo tempo, com o que por vezes pode ser exemplificado em termos de novas soluções para novos problemas.

É decisivo, de suma importância, que os cidadãos possam não encontrar, em males como a desigualdade social, uma justificativa pessoal, e dar a esta a roupagem de um subterfúgio para vir a não enfrentar e superar dificuldades, cedendo às possíveis forças opostas no presente, abdicando de construir um futuro que possa respeitar o suprimento de suas necessidades e as condições para a realização de sonhos.

É fundamental que toda pessoa que não se encontra satisfeita com a realidade atual de sua existência possa vir a refletir a respeito do que almeja para a própria vida e, a partir da convicção do seu desejo, se por em movimento, em direção àquilo que o aproxima do que lhe é importante. “Não falem de dons ou talentos inatos! […] muitas figuras importantes não tinham talento, mas conquistaram seu mérito e transformaram-se em gênios, superando as dificuldades.”, escreveu Nietzsche. A decisão de romper com as condições que estão determinando o quadro pragmático de sua insatisfação é uma abertura ao futuro, numa disposição à atualização de novos padrões/patamares de experiência a serem conhecidos e vividos.

O protagonismo individual, em quaisquer que sejam os cenários e as condições em que se encontra neste, deve ser algo a buscar, e conquistar na relação do sujeito consigo mesmo, tomando para si a responsabilidade de ser o construtor da própria vida, a partir da elaboração e reconhecimento de seu estilo, propósito e causa.

A arte, a ciência, a religião, a educação e o trabalho são princípios de vida, abrem caminhos, constituem celeiros de oportunidades, são verdadeiros mundos a serem descobertos e explorados, e consequentemente se colocam como meios para o sujeito (re)descobrir-se a si mesmo, e explorar as suas próprias potencialidades para as novas definições que pretende imprimir à vida.

Desde o universo da música, como o da poesia, a escultura, a pintura, o teatro etc, são algumas expressões autênticas da arte, que estão abertas como por portas vitalícias a contemplar o interesse, talento, vocação ou a “simples” vontade de um sujeito de se aproximar do mundo da arte para poder ser tocado por ela e, a partir disso, tocar as pessoas de uma forma diferente, segundo novos arranjos de sensibilidade e outros modos de existência.

A ciência é composta por várias frentes, ricos e distintos campos do conhecimento, entre os quais, um ou mais podem ser abraçados por identificação pessoal, afinidade, ou eleição de uma causa individual que pode estar associada a uma causa importante para o próprio mundo, em que pese o valor das descobertas, o trabalho com as pesquisas, os próprios avanços no campo da tecnologia, da medicina, engenharia, astronomia, entre tantos outros.

A religião tem a proposta de aproximar o homem do sagrado, do divino. A força da fé como instrumento para conhecer a Deus, é um ponto central no campo da experiência religiosa. O reconhecimento de um ser superior, com o qual se pode ter um relacionamento, dividir angústias, buscar orientações, amparo, compartilhar frustrações, assim como alegrias, é uma das expressões mais comuns às religiões, em uma das quais o homem pode vir a se encontrar e se reconhecer a partir de um quadro importante de identificações, a reboque do sentido que tais experiências podem fazer para si, e para sua relação com o mundo.

A educação valoriza o conhecimento como modo de relação com o mundo, privilegiando o aprendizado, a construção do conhecimento por uma aquisição situada em uma relação com os livros, com os professores, dentro ou fora dos ambientes convencionais de ensino, mas privilegiando o saber para o sujeito se situar no mundo de forma responsável e pró-ativa, rompendo com qualquer compromisso com as forças obscurantistas da ignorância, do pré-conceito e da desrazão. Ao menos no Brasil, o termo educação confunde-se, não raro, com “modos”, “etiqueta”, ou seja, está envolto em uma significação que contempla um flagrante de superfície. A rigor, educação é sinônimo de alicerce, fundamentos sólidos, o que, por sua vez remete, necessariamente, a uma experiência de profundidade. Encontra-se, por uma visada etimológica, e prática, associada a uma direção orientada, à condução esclarecida – no Brasil, diria Darcy Ribeiro, a educação não é algo que atravessa simplesmente uma crise, mas constitui um projeto. Eis uma fórmula fundamental da peste que assola o país; é, pois, fórmula que visa a garantia da miséria nacional.

Com o trabalho, o homem tem uma importante oportunidade de solidificar o seu lugar no mundo, associado ao que pode vir a ser uma realização pessoal, e contribuição para a vida em sociedade, a partir de uma expertise em determinado(s) campo(s) de atuação, em que uma técnica especial se elabora a partir de estudos teóricos e/ou práticos, e que se aprimora progressivamente com sua aplicação aos propósitos a que se destina.

Em grande escala, a genealogia da violência passa pela não absorção destes campos da vida humana para com uma contingência maior de indivíduos e grupos, de forma que, por vezes, não encontra o seu contato em um estágio sequer embrionário, ou, em todo caso, no limite, uma experiência que tenha se dado de forma satisfatória, quanto às condições de sua vivencialidade.

Eis a importância de forças individuais e ou coletivas serem somadas à convergência de um propósito, de modo que os obstáculos possam ser transpostos, em direção ao futuro almejado. Família, amigos e instituições sociais são exemplos de forças que se pode cogitar a fim de somar e multiplicar recursos, para além de toda a força do mundo interno de cada um.

Dizia José Saramago que “nossa maior tragédia é não saber o que fazer com a vida”. Um estado de coisas em que tal raciocínio se cumpre, tende a abrir determinadas possibilidades que o tempo costuma poder confirmar o seu caráter deletério à vida humana – sejam as drogas, a violência ou criminalidade. Nem tudo que é sedutor deve nos encantar. A vida tem três tempos, presente, passado e futuro, e costumamos estar sempre diante do que ocorre nessa tríade. As armadilhas (da ilusão) da facilidade costuma virar sua face com a passagem do tempo, e revela a sua natureza real, de modo que as principais conquistas na vida de um homem costumam ser obtidas mediante esforço concentrado sobre contextos de dificuldades.

Respeitando a lógica segundo a qual a fome é uma realidade que se dá por efeito de não ingestão de alimentos, por um organismo, em um determinado espaço de tempo, a violência é uma expressão daquilo que, no organismo social, não fora alimentado em um determinado espaço de tempo, de modo que se revela com uma correlação razoável com o organismo humano – o socius apresenta febre, fraqueza, desmaio, convulsão, ou mesmo morte, por múltipla falência de órgãos.

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1 Comment to “ A violência no mapa do Brasil: uma travessia que desafia o país”

  1. Lane says :Responder
    05/01/2020 at 12:17

    Good way of telling, and good article to take facts on the topic of my presentation topic, which i am going to convey in school.

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Concebo a clínica como lugar de vivificação da existência humana. Aqueles que se dão à oportunidade para esse importante passo, motivados a partir da presença de um sinto-ma, cuja razão de ser pode não estar revelada a priori, podem vir a encontrar, no seio da experiência por nós proposta, novas razões de ser para si próprio e, portanto, para um fazer mais interessante e pleno com a própria vida.

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